sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Palavras

Palavras, não mais que palavras.
Não mais que coisa alguma.
Mas tudo é palavra em suma.
Palavras abocanhadas,
Mastigadas, depois vomitadas,
São palavrinhas mal digeridas
Que tornam a ser palavras
Depois de cuspidas.
Palavras da boca pra fora,
Palavras impressas, versadas,
Palavras sinceras de quem ri
Ou até mesmo de quem chora.
Palavras soltas, aladas,
Perdidas em meio a outras...
Palavras muitas, palavras poucas,
Ricas, pueris, bem articuladas,
Aquelas com gostinho de anis,
Aquelas que descem amargas.
Algumas escapam da boca,
Outras se perdem na ponta da língua.
Há palavras que vão de vento em popa,
Há palavras que morrem a míngua.
Sejam profanas, benditas,
Adjetivadas ou loucas,
São palavras bem-vindas.
Palavras de tesão ao pé da orelha,
Do sacristão à suas ovelhas.
O mundo cabe em uma palavra,
Só alguns corações que não sabem
Que a palavra amor também os cabe.
A palavra instante é curta,
A palavra espera é longa.
A palavra navalha corta,
A palavra tempo cicatriza.
Palavras, palavras, palavras...
E são tantas as palavras
Que mal cabem na boca.
Mas se você não sabe qual usar,
Cale-se, pois qualquer palavra solta
Pode contaminar o ar.
Deixe a palavra sangrar
Até que escorra poesia,
E mesmo que a boca não se abra
Será a poesia a palavra abracadabra
Nesse mundo de palavras engasgadas.

Jairo_Alt